Retomo a minha escrita após alguns dias de interregno, sim porque também se trabalha por estes lados e não é pouco. Decidi dedicar a primeira parte deste post a uma pequena descrição da vida quotidiana na faculdade e nas aulas.
O ambiente na faculdade é diferente de Portugal a começar pela quantidade de pessoas que passeiam pelos corredores; são às centenas a qualquer hora do dia e a qualquer dia da semana, fins-de-semana incluídos.
Ao contrário do que inicialmente eu esperava a relação aluno professor não é muito distante e os professores são todos muito acessíveis e simpáticos. Isto pelo menos com os alunos estrangeiros, sempre com curiosidade em comparar as diferentes realidades do mundo. Esta proximidade tem a meu ver uma razão, é que somos os únicos a participar nas aulas. Um professor pode fazer a pergunta mais banal possível do tipo 1+1 e não há um único aluno Chinês que responda à pergunta, todos baixam a cabeça e fingem que não é nada com eles. Ao princípio pensei que fosse uma questão de distância professor aluno mas começo a pensar que será uma certa timidez ou ainda mais uma questão profundamente cultural que não consigo bem explicar.
No entanto há certos pormenores que me fazem uma certa confusão, ora vejamos, em Portugal comer dentro de uma sala de aula não é de bom tom, claro que ninguém recrimina um aluno que coma algo ligeiro tipo um chocolate ou uma bolacha apenas para matar a larica enquanto não tem um intervalo. Em Portugal não conheço muita gente com lata para entrar numa aula mais do que, sejamos bondosos, vinte minutos atrasado. Bem a questão temporal aqui não interessa para nada, teórica ou pratica não há diferença entra-se e saí-se da aula as horas que for, discretamente (ou não) atende-se o telemóvel, dorme-se profundamente em cima da mesa, o que me leva a questão da biblioteca. Com uma ida a biblioteca compreende-se o porque de esta malta passar noites em claro (o meu ex. companheiro por exemplo) mais de metade dos alunos na biblioteca dormem PROFUNDAMENTE em cima dos livros, não sei deve ser uma técnica oriental de absorção de conhecimento???
Voltando a questão da comida, nunca pensei que fosse possível em qualquer lado do mundo que fosse permitido, aceitável e completamente normal (adorava ver as professoras do liceu (a mãe incluída) darem uma aula assim) ter alunos a comer na aula…. Mas atenção não estou a falar de o chocolate nem da bolachita nem sequer de uma sanduíche…. Estou a falar de um prato de esparguete (cujo cheiro se propaga pela sala inteira) ou de um prato de sopa, uma refeição completa com talheres e tudo.
Tenho também de partilhar uma diferença que tem muito que se admire no entanto um pouco irritante. Esta semana é semana de eleições para as sociedades e clubes da faculdade, razão que leva que estejam dezenas de pequenos grupos (8 a 20 pessoas), cada um a fazer campanha pela sua lista. Nada de estranho até aqui, tirando o facto desta malta vestir a camisola como nunca vi ninguém, até nas eleições em que apenas concorre uma lista, vestem-se todos de igual, e quando digo igual é mais do que apenas vestirem uma t-shirt da mesma cor…. Vem todos vestidos de super-homem por exemplo por é a “super lista” ou todos com trajes que eles desenharam e fizeram. Para que toda a gente note a sua presença marcham pelos corredores cantando palavras de ordem (penso eu o meu cantonês ainda está meio perro) ou posicionam-se no topo das escadas rolantes a gritar os seus slogans. O barulho de 40 ou 50 grupos o dia todo a gritar é algo que só visto. Acho isto tudo um pouco idiota, mas tenho de reconhecer que tem uma grande capacidade de trabalho e são definitivamente jogadores de equipa, que vestem a camisola e vibram com os seus projectos, sejam eles quais forem (tenho um grupo de trabalho só com Chineses e nunca fiz um trabalho em que os membros se entusiasmassem tanto com o projecto).
Houve quem insinuasse que o meu relato sobre o meu ex. companheiro de quarto era exagerado e que não acreditava que o rapaz pendurasse as cuecas à janela, felizmente….eu já esperava isto e antes de sair do quarto tomei a liberdade de registar para a posteridade tal prazer que era ter a vista de Hong Kong bloqueada por umas cuecas. Digo que estas eram as cuecas de ir a missa porque normalmente não tinham tão pouco mau aspecto.