terça-feira, novembro 21, 2006

21-11-06 Mekong Delta

O dia começa com algo que infelizmente não é invulgar para a minha pessoa, atrasado! Engoli um pão quase de uma vez só e sigo para o autocarro para uma viagem de 75km que durará aproximadamente duas horas, um pouco menos. O destino é o delta do rio Mekong o maior delta do mundo composto por um infindável numero de ilhas e canais. O rio Mekong na zona do delta divide-se em nove transportando as águas das neves quase eternas dos Himalaias até ao mar. Este é o único delta do mundo que continua a crescer, os sedimentos que são arrastados pelas águas fazem com que aumente cerca de 70cm por ano mar adentro.

Na viagem e porque a noite foi curta tento dormir no entanto os ocasionais saltos que a estrada apresentava não eram o melhor embalar. Pelo caminho um pormenor um pouco mórbido mas interessante, no meio dos extensos arrozais (maior zona produtora de arroz da Ásia o delta do Mekong) era frequente ver campas, felizmente o guia (de seu nome Jerry e que parecia saído de um filme americano sobre o Vietname que não consegui recordar qual seria mas ainda vou a tempo) explicou que muitas pessoas passavam a vida inteira a trabalhar aqueles campos de sol a sol e que era natural que ali quisessem repousar. Encontrei também campas nos jardins das pessoas ao lado das casas. Pode parecer mórbido mas é revelador de uma grande diferença cultural em relação a como se encara a velhice e a morte, no ocidente tantos os velhos comos os mortos são “armazenados” em sítios próprios e longe, aqui pelo contrario os velhos são tratados pela família e os mortos, porque continuam vivos segundo as crenças também devem continuar perto dos seus. È apenas um pormenor.



Pelo caminho e já que dormir é impossível aproveito para absorver o máximo desta oportunidade de sair da cidade e ver um pouco da vida no campo. A vida desenvolve-se à beira da estrada, faz lembrar o Brasil onde também tudo se vende a beira da estrada anunciado em bocados de cartão com cores viva. Lojas, bancas e até no chão desde frutas a gasolina remendos para pneus, até carne, gás, sumos tabaco e motas.

Continuo a aprender com o Jerry, Saigon 10 milhões de habitantes e 4 sim 4 milhões de motas, está explicado aquele movimento surreal nas ruas! As motas de fabrico chinês são muito baratas, a mais barata custa 300$US tal como a gasolina que custa 0,5€ o litro. Todos os jovens querem ter a sua mota isto pq “ In vietnam no motorbike, no girlfriend. No money no honey!”. Como pode existir uma diferença cultural tão grande entre os povos?????? Explicado ficou também os inúmeros casais estacionados nos passeios e parques sentados em cima da mota a namorar pela noite dentro que tinha visto na noite anterior.

Chegados a Cai Be passamos para a agua a bordo de um barco…….…. Ou melhor de uma canoa grande com um motor que não dá velocidade suficiente para que o vento me refresque deste calor que derrete o corpo. As águas são barrentas e acastanhadas (faz-me lembrar o rio de La Plata em Buenos Aires) e ricas em objectos (atenção não são dejectos) que flutuam a sabor da corrente (troncos, folhas, frutas, bambus etc). Agua que é coisa que não falta por aqui é de facto vida e este verde delicioso enche a alma relembrando a maravilha que a Natureza nos oferece.


Primeira paragem uma fabrica de caramelos feitos a partir de cocos triturados e cuja seiva (não agua) é cozida com açúcar, surpreendentemente deliciosos, até para mim que não gosto de coco. Mais uma amizade com outro casal de espanhóis, ele Basco e ela das Astúrias.

Hora para um passeio numa piroga entre os canais deste mangue. No caminho somos constantemente relembrados pelos remadores das pirogas que regressam vazias para ir buscar mais turistas com “give money give money “ para a gorjeta aos remadores. De volta ao “navio” hora de outra ilhota para almoçar, convívio agradável com outros viajantes e a comida aceitável pelo preço. Claro que a duvida ficou, com tantos cães a andar pela ilha será que era mesmo porco? Ao contrário do que se pensa na china não é costume comer cão mas no Vietname é.









Próxima paragem outra ilhota que ficava dentro de um canal mais pequeno e mais uma vez tivemos de trocar de barco. Enquanto serpenteávamos os canal vi habitações com “óptimo” aspecto como se vê na fotografia assim como pescadores dentro de água lançando as suas redes nas águas opacas na esperança de um jantar. A atracção desta ilha seria a música tradicional e o “honey tea”. Coitadinhos dos turistas na madeira a quem obrigam a ouvir o “bailhinhe” ;) senti-me como eles, o chá por outro lado, mel, água e sumo de uma micro tangerina verde (de cor mas madura) tinha um gosto óptimo. Mas deixemo-nos de tretas que o momento alto desta ilha não foi o cantar desafinado das senhoras nem do guia que as tentou acompanhar nem aquela chávena de água quente…o momento foi mesmo a Sra. Pinton.


Não tenho um gosto particular por repteis antes pelo contrário mas não podia de deixar de experimentar tudo o que pudesse de diferente neste pais onde pelos vistos é possível fazer quase tudo. A textura da pela da cobra a se enrolar a volta do meu pescoço e tronco faz brotar uma panóplia de sensações que vão desde o medo e o nojo à curiosidade passando muito pela excitação daquele desconhecido. Sempre tentei enfrentar os meus medos e fantasmas, cobrinhas puff coisa de meninas!






Estas organizações têm momentos engraçados, tínhamos de apanhar o ferry para irmos para Can Tho City pois era ai que íamos passar a noite, ao chegarmos ao cais tivemos de sair do autocarro pois ninguém pode ir dentro dos carros, o habitual. O Jerry começa a pedir a todos que corramos para apanhar este ferry que está a partir, qual manada de elefantes enraivecidos da véspera corremos e corremos e mesmo à Indiana Jones quando o ultimo embarca a porta levanta e o barco solta amarras. Estamos todos?? Ficou alguém atrás? Parece que conseguimos. PARA QUE ESTÁ MERDA TODA? A porcaria do autocarro não consegue correr, claro que não veio no mesmo ferry do que nos e tivemos de ficar à espera na mesma do outro lado do canal. O cenário do pôr-do-sol enquanto cruzo o canal será uma imagem que quero guardar, é bom viajar, estou a ficar com um sentimento especial por este país!

Estava curioso para ver o que seria o hotel, à chegada deu para ver que era uma pensão estrelinha mas eu apesar de gostar, e muito, das coisas boas não sou muito esquisito quando não são. A primeira surpresa (sim pq osgas, e outros bicharocos dentro do quarto é normal no Vietname ate nos sítios melhores) foi que não existiam quartos triplos, pois bem single. Não, também não é possível um single (por mais 4€) porque está cheio. Solução, os três viajantes solitários e eu (já que era o mais open mindend de nos os três) teríamos de arranjar uma solução de partilha de quarto. Até tive sorte no meio disto tudo, as hipóteses seriam partilhar o quarto com o Scott, inglês trintão viajante compulsivo desde 94 sempre ou quase solitário, simpático mas nitidamente com um parafuso a menos. Outra hipótese era o Lerroy, delegado de vendas da proctor and gamble, born and raised in Singapura também simpático mas chinoca, apesar de incomparavelmente mais polido do que o meu anterior companheiro chinoca o trauma ficou. Finalmente e com quem tive de partilhar o quarto nessa noite foi a Cristine uma enfermeira Neo-Zelandesa tb mais velha que já percorreu grande parte da ásia como da América do sul e tinha muitas estorias e experiências para contar (e ao contrário do Scott com todos os parafusos).

Claro que os convidei para jantar, gosto de conhecer gente e aprender e ouvir estorias de outros “clepes”. Uma nota a parte não sei se de feitio se de nacionalidade mas os franceses, e são meus amigos e dou-me bem com eles, tem uma certa aversão/dificuldade a conhecer novas pessoas. Bem isso também não é importante para o caso. Deixo-vos uma amostra do que também existia no menu do restaurante…. Apetitoso!!! Ninguém se aventurou por caminhos poucos ortodoxos mas houve quem equacionasse a questão.




Depois de jantar tentamos encontrar um barzinho qualquer que não fosse um pardieiro e que talvez tivesse pelo menos um ocidental para não nos sentirmos tão diferentes. Esta provou ser uma missão muito complicada e que causou baixas pelo caminho, no final ficamos apenas o núcleo duro de nós os três em busca de uma jola gelada que ajudasse a superar o calor infernal. Perdemo-nos completamente e quando demos por nós estávamos numa rua da cidade que não era para turista ver, alias penso que metade de quem lá estava nunca tinha visto um turista. As motas abrandavam para ver estes três alienígenas que passeavam depois de jantar em frente as suas casas, as pessoas sentadas no passeio em mesas de plástico paravam de comer para ver estes três animais de circo que nós lhes devíamos parecer. Nunca senti o mínimo de insegurança nem de agressividade apenas espanto, devo dizer que todas a pessoas são muito simpáticas e sorridentes mesmo quando o objectivo não é ganhar dinheiro à nossa custa. Este passeio por estas ruas repletas de lixo, onde a visão de pobreza é horripilante faz-nos pensar na vida, na nossa e na sorte que uns têm e outros não. Relato também que apesar desta imagem dantesca de pobreza as pessoas são felizes e acolhedoras e as crianças brincam e riem na rua com uma alegria contagiante.

Missão falhada de regresso ao hotel, pelo caminho e como o mundo é pequeno volto a encontrar o casal de espanhóis que tinha encontrado no primeiro dia em Ho Chi Minh. Findo com a sensação que ao conhecer viajantes e ouvir os seus relatos me faz cada vez mais querer partir durante um mês ou dois ou três e percorrer este pequeno canto do mundo tão diferente do meu mas tão rico. Sudeste Asiático me aguarde!

5 comentários:

Anónimo disse...

rato?

mbmac disse...

Log on to my blog, if you care..*

André disse...

Esta vida de tour guide nao é facil a escrita esta a ficar para tras, mas será retomada em breve com mais estorias aventuras e desventuras com cunho pessoal.

Anónimo disse...

Incrível, homem, tem aki uma foto tua com uma cobra ao pescoço,não é possível.Algum erro técnico :).
Living the dream my friend.

André disse...

Gois nao é fotoshop é real mesmo!! e digo que para quem nao gosta muito de repteis que é o meu caso é uma adrenalina optima, encarar os medos pela frente e de cabeça erguida!